No voo de retorno da Coreia do Sul, Papa
Francisco concedeu entrevista aos cerca de 70 jornalistas que o
acompanhavam na viagem. A coletiva se realizou em clima informal, já
característico desses encontros com a imprensa.
Francisco reiterou que não descarta uma
possível renúncia, a exemplo do que fez Bento XVI, se um dia não se
sentir mais capaz de seguir adiante.
“Bento XVI abriu uma porta, que é
institucional. A renúncia de um Papa é uma instituição e não mais uma
exceção, apesar disso não ser do gosto de alguns teólogos”, afirmou
Francisco, lembrando que os bispos eméritos eram uma exceção há 60 anos,
não existiam, e que agora esta é uma prática habitual.
Popularidade
Respondendo sobre sua popularidade e o
efeito desta sobre ele, disse: “Eu a encaro como uma generosidade do
povo de Deus. Interiormente, procuro pensar em meus pecados e nos meus
erros para não acreditar nisso. É porque sei que isso durará pouco
tempo: dois ou três anos, e depois… à Casa do Pai”, afirmou em tom de
brincadeira, provocando risadas de todos.
Aos 77 anos, o Pontífice argentino disse
que vê essa popularidade “de maneira mais natural do que no início”,
quando ficava um pouco mais “assustado”.
Indagado sobre suas férias deste ano, o
Papa disse que vai passá-las em casa, na residência de Santa Marta, onde
mora. “Sempre tiro férias, mas sou muito ‘caseiro’, então mudo de
ritmo. Leio coisas de que gosto, ouço música e, acima de tudo, rezo
mais”, explicou, admitindo que ser ‘caseiro’ é uma de suas neuroses”, e
que a cura “tomando mate todos os dias”, brincou de novo.
Rotina do Papa
Um dos jornalistas perguntou a Francisco
como é a vida do Papa no Vaticano. O Santo Padre respondeu que procura
ser o mais livre possível; há os compromissos de trabalho, mas para ele a
vida é normal.
“Realmente, eu gostaria de poder sair,
mas não pode… Não, não é por precaução; não pode, porque se você sai, o
povo vem à sua volta… E não pode, é uma realidade. Mas no interior, na
Santa Marta, levo uma vida normal de trabalho, de descanso, de
conversas.”
Quando perguntado se se sente como um
prisioneiro, Francisco logo respondeu que não. “Não, não. No início sim;
agora, alguns muros caíram. Um exemplo, para fazer vocês rirem: vou
descer de elevador, logo vem alguém, porque o Papa não podia descer no
elevador sozinho. ‘Você vai para o seu lugar, que eu desço sozinho’. E
fim de história. É assim, não é? É a normalidade, a normalidade”.
China
Uma das 15 perguntas respondidas por
Francisco na coletiva referiu-se à China. Foi a primeira vez que um Papa
sobrevoou este país em suas viagens apostólicas, recebendo a
autorização das autoridades comunistas.
O Pontífice contou que estava na cabine
do piloto quando seu avião sobrevoou a China. “De volta à minha
poltrona, rezei muito pelo povo da China, um povo belo, nobre e sábio”,
disse, citando ainda o jesuíta Padre Matteo Ricci, precursor do
catolicismo no país.
“Perguntam-me se desejo ir à China: claro
que sim. Amanhã mesmo. A Igreja só pede liberdade para fazer seu
ofício, nenhuma outra condição”, declarou.
Francisco pediu que países asiáticos,
como China e Vietnã, aceitem um diálogo respeitoso entre culturas e
estabeleçam relações diplomáticas plenas com o Vaticano.
“Não estou falando somente de diálogo
político, mas também de diálogo fraternal. (…) A Santa Sé está aberta ao
contato sempre, porque tem uma verdadeira estima pelo povo chinês”.
Oração pela paz
Um dos jornalistas perguntou se o
encontro de oração pela paz no Oriente Médio, realizado no Vaticano, foi
um fracasso, já que após o encontro eclodiu a crise em Gaza.
“Aquela oração absolutamente não foi um
fracasso. (…) Temos que rezar para que se percorra o caminho da
negociação. (…) Certo, depois aconteceu aquilo que vemos. Mas é algo de
conjuntural. O encontro de oração foi um passo fundamental, porque se
abriu uma porta. Agora a fumaça das bombas não deixa ver essa porta
aberta. Mas eu creio em Deus e creio que aquela porta foi aberta”.
http://papa.cancaonova.com/papa-comenta-sua-rotina-em-entrevista-a-jornalistas/